sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

o funeral do bebê

Os familiares entraram em casa, fecharam a porta e suspiraram de alívio. Basta de pesar. Suspiraram de alívio porque estavam aliviados.

Na noite anterior, barba por fazer, corpo ensopado de suor, lambuzado de óleo, o hálito puro cigarro e cachaça, o bebê também deu um suspiro, após uma longa gargalhada, e um peido, e morreu, fora de casa, num estabelecimento de reputação nada duvidosa, todos sabiam tratar-se de um puteiro. Havia três mulheres na cama, haviam-no untado inteiro e brincavam de tentar agarrá-lo enquanto ele, rindo de se acabar, escapava dos braços de uma para cair nos de outra.

Desde os seis meses que o bebê levava essa vida de pura orgia.

Nascera normal, apesar de um pouco avantajado nos genitais, o que não deixou de provocar certo orgulho no pai. Ao fim de três meses, entretanto, pai, mãe, avô, avó, médico, todos a custo dissimulavam o asco experimentado diante da visão daquele corpinho que já começava a se recamar de pelos e a ostentar um pênis bastante adulto.

Um pouco mais e começaram as ereções, que enchiam mulheres de culpa e homens de inveja. Era amamentar o bebê e lá estava o mastro em riste. Era colocar o bebê no banho, começar a ensaboá-lo e pronto, a flácida sucuri convertia-se em milenar sequoia.

Havia quem, longe das vistas de terceiros, tirasse proveito do fenômeno, a babá, a irmãzinha mais velha e suas amiguinhas, primas, primos, sem contar um tio, seminarista.

E o bebê? Bom, este nem de longe escondia seu crescente gosto pela bandalheira. A babá levava-o ao parque e exibia o portento às colegas, cujas reações iam de um nojo voluptuoso a uma desabrida avidez. Como seja, nenhuma delas deixava de dar ao menos uma pegadinha na sobeja aberração. E o bebê sorria, ria, gargalhava.

A vida do bebê, não obstante muito distinta da apregoada no manual homônimo, era uma maravilha, do ponto de vista do bebê e de seus comparsas de putaria, claro.

Já para os pais, aquilo era insuportável. Um dia, sugando o peito materno, o calhordinha ejaculou, parecia um chafariz, acertou até a cara da mãe. Em lágrimas, ela esperou o marido chegar, contou-lhe da proeza do pimpolho e exigiu providências. Na falta de ideia melhor, o pai aplicou uma tunda no moleque e o pôs no olho da rua.

E lá se foi o bebê, engatinhando.

Não foi difícil obter sustento. O que não faltava era gente que pagasse para ter aquele colosso entre as pernas ou diante de uma câmera.

Como astro pornô, ele passou a ganhar o suficiente para bancar uma vida de pura esbórnia. A mesma vida que logo o ceifou.

“Melhor assim!” Suspirou a parentalha, antes de se dispersar e voltar ao cotidiano. O desgraçado nem deixara herança, tudo se fora nas farras, memoráveis.