terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


STIFF SURE

want women to look at me and say
gee what a handsome corpse
looks alive but in the inside pure death
the perfect one baby
rigor mortis
a sure stiff
no inner fire
but lots of who the fuck could know
the more asleep
the less I live
the more I stare
the more the same they tell me
the more life looks like nothing
don’t wanna die
don’t wanna live
I just want to remain in that same place
I’ve never been since who the fuck knows

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


PAPO C
avec M. Clochard

         Hoje vamos conversar sobre esse ente tão fabuloso e, ao mesmo tempo, tão do nosso dia a dia: o automóvel.
         Muito provável que o estimado leitor conte entre aqueles que recentemente ingressaram na massa de consumo nacional. A economia cresceu, a necessidade de mão de obra aumentou, bem como a remuneração média. Vai daí que, lá um belo dia, o distinto se viu alçado a nova e mais rendosa designação em seu emprego. Subgerente da loja de conveniência, chefe de pista no posto de gasolina, supervisor dos caixas no supermercado, qualquer que seja seu novo posto, estou certo de que, junto com ele, também veio uma nova e maior remuneração.
         E foi assim que, de um modo quase mágico, descortinou-se diante de seus olhos um novo mundo, feito de fontes de leite e mel, alamedas recamadas de pedras preciosas e céus sempre a ostentar ofuscantes arco-íris, um mundo maravilhoso, onde tudo pode ser seu, mediante financiamento.
         E então o prezado se vê numa situação inteiramente nova, ou mais que nova, inusitada. Converte-se num distribuidor de dádivas. Um novo G-Shock para sua digníssima pessoa, um Xbox pro Wanderkélson, um aparelho pros dentes da Roneywalldez, um par de Asics pro Altubancyr.
         Tudo isso, porém, é café pequeno, fichinha, mero preparativo diante do que está por vir. E que um dia vem.
         E eis que enfim chega o dia, aquele momento sem par, quando finalmente são transpostos os portais de uma revenda para de lá se sair a bordo do primeiro e tão longamente sonhado automóvel.
         Agora é hora de desocupar a garagem daquelas tralhas que pareciam ter adquirido direito vitalício de permanência no lugar: o sofá de três pés, a geladeira queimada, a caixa de brinquedos quebrados, o fogão que se esbodegou todo quando a panela de pressão explodiu. Manda tudo pra laje que agora tem carro nessa casa.
         E lá está ele. Admire-o, daqui a cinco anos será todo seu. E não terá custado nem o triplo do preço à vista. Está na hora de pregar um adesivo “Presente de Deus” no vidro traseiro e ir para a rua barbarizar.
         Entretanto, antes que o meu prezado incorpore definitivamente seu novo rodante à pletórica miríade de engenhos poluidores da atmosfera conhecida como frota urbana, convém repassar umas regrinhas básicas de bom convívio:
1-     A faixa da esquerda deve ser reservada para ultrapassagens. Não acredite em mim, acredite no código de trânsito, se o bom senso não lhe bastar. Está lá, no livrão: em pista com mais de uma faixa de tráfego num mesmo sentido, a faixa mais à esquerda deve ser reservada para ultrapassagens. Ou seja, o motorista vai para a faixa da esquerda, ultrapassa e, assim que concluída a ultrapassagem, volta a ocupar a faixa da direita. Não vá na conversa do Cremildo da van, para quem qualquer espaço em que caiba a Besta é pista, os outros que abram caminho. Também não beba nos mananciais de sabedoria de dona Cotinha, sua venerável vizinha, viúva do tenente PM aposentado, que acha que, se alguém está na velocidade máxima permitida na pista, deve sempre permanecer à esquerda. Por mais que a boa senhora diga que, agindo assim, “a gente istemos no nosso direito legítimus, meu filho”, a verdade é que a gente não istemos não. Repito, confiram a legislação de trânsito, caso não confiem em mim;
2-     O mundo para fora da janela aberta de seu carro não é uma infinita lixeira destampada. A fralda suja do Kélvyson, a latinha vazia de Schin, as embalagens de salgadinho isopor e qualquer outra matéria sem mais serventia devem ser mantidas dentro do automóvel até que se chegue a local em que haja uma lixeira de verdade para recebê-las. Carregue uma sacola ou algo similar dentro do carro para guardar seu lixo e jogá-lo fora depois, garanto que não é de mau tom;
3-     Automóvel é meio de transporte, não fonte de ruído. Deixe seu bagageiro para as bagagens, não o encha de alto-falantes para estourar os tímpanos da galera do piscinão. Meu saco agradece;
4-     Se o distinto não sabe conduzir sóbrio, o que o faz pensar que com álcool sua já escassa perícia será aprimorada?
    Por hoje é só, caríssimos. Poderíamos discorrer sobre outros tópicos que, de uma forma ou de outra, dizem respeito a sua relação com seu veículo, como o porquê de se empenhar tamanha parcela da renda familiar, presente e futura, num meio de transporte e necas de pitibiribas na melhora de sua instrução, quando nada para se tornar capaz de ler legenda de filme estrangeiro. Mas isso é assunto para outro encontro     .
Mes meilleures salutations.
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Monsieur Clochard é consultor de comportamento para classes menos favorecidas. Nascido e criado em Paris, lá sempre viveu sob as pontes mais elegantes da Cidade Luz. Ainda jovem veio morar no Brasil, onde já ministrou cursos e palestras em inúmeras comunidades das principais capitais.