NINGUÉM É
INTEIRAMENTE NADA, MAS QUALQUER UM PODE SER INTEIRAMENTE ODIOSO
Ninguém é
inteiramente bom. Ninguém é inteiramente mau. Todos temos um pouco, ao menos,
de cada um dentro de nós.
Quando me
deparo com alguém que aparenta ser inteiramente mau, sei haver algo de errado
no que vejo. O mais provável é que eu esteja diante de uma farsa, uma farsa que,
via de regra, envolve o sentimento de medo e a necessidade de se proteger. Quer
dizer, a pessoa se faz de má para infundir medo, antes que o medo lhe seja infundido
por outrem. Falo de experiência própria.
Quanto à
possibilidade de o indivíduo ser genuinamente mau, considero-a praticamente
inexistente. É mais que raríssimo encontrar gente que mostre de cara como
realmente é. Num caso assim, de qualquer modo, ainda haveria a sinceridade do
sujeito para ser apreciada, embora eu, provavelmente, buscasse manter a maior
distância possível do camarada.
O pior,
entretanto, é quando dou de cara com gente que aparenta ser o retrato da
bondade. Esse é o tipo que me assusta. Agradáveis, solícitos, sorridentes, eles
vão se expandindo em torno dos outros, envolvendo-os como barbante em carretel,
derramando-se em mesuras, cortesia e bons modos enquanto preparam o bote.
No momento em
que se é atingido por um desses bondosos aparentes, nem dá para perceber a
maldosa ardilosidade encoberta sob aquela cândida fachada. O mais das vezes, só
muito depois descobrimo-nos vítimas da dissimulação, da falsidade, da perversa
frouxidão de um fraco de má índole, contra quem nada se pode fazer, ao menos de
modo lícito, pois o escroto, aos olhos do mundo, sempre se comportou com
candidez, benevolência, tolerância, cordialidade. Nada a dizer, nada a fazer, a
não ser que você aceite depois se ver tendo que se explicar perante um delegado,
um promotor ou um juiz.
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