O grande homem nunca dava passo em falso. Ele sempre via o melhor caminho. Por isso que entrou tantas vezes em esquemas de pirâmide. O imbecil queria ganhar dinheiro, desde que não tivesse que trabalhar, e achava que era o único no mundo a pensar assim.
Uma vez ele se meteu numa dessas pirâmides no estilo Amway. Entupiu a casa de caixas e caixas de um sabão líquido desconhecido que era uma maravilha, uma coisa tão boa, mas tão, mas tão, mas tão boa que se venderia por si própria, sem necessidade alguma de outra publicidade que não o boca a boca. Era perfeito. Era infalível. E é evidente que não funcionou.
Resultado: o camarada não vendeu nem uma gota de sabão milagroso e tudo seguiu conforme dantes. Quem era louco de contestar um sujeito tão genial, especialmente quando o sujeito genial é muito maior que você, detém o poder econômico da casa e é dotado de uma estupidez sem fronteiras? E então a casa ficou entulhada, caixas e caixas da maravilha saponácea ocupando cada mínimo cantinho aproveitável. Agora tínhamos sabão para lavar até nossos bisnetos. Reconfortante.
Mas o melhor ainda estava por vir. Depois de uns poucos meses, três, quatro, não mais que seis, o esplêndido sabão começou a apodrecer. Era um produto biodegradável pra chuchu, tão biodegradável, aliás, que se biodegradou ainda fechado na própria embalagem. Era abrir um frasco do bagulho para a casa toda ficar empesteada com aquele miasma. Um cheiro próprio, indefinível, poderia ser de merda, de carniça, de um monte de coisa, de qualquer coisa pestilenta ad nauseam.
E o grande homem, obviamente, insistia em que se continuasse usando o sabão podre. Devíamos usá-lo no banho, na lavagem da louça. Porque o sabão era ótimo, seu único porém era o cheirinho ligeiramente desagradável, comparável ao de um contêiner abarrotado de cadáveres em decomposição.
Quem sabe, num futuro muito distante, quando aquela infinidade de sabão acabasse, nós poderíamos passar a usar bichos mortos em nossa higiene pessoal, bastaria recolhê-los da rua.
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